02/02/2011



MAGALHÃES, Júlio (2009). Um amor em tempos de guerra. Lisboa: Esfera dos livros. ISBN: 9789896261825
por 
Professora Isabel Prates

Sobre o autor: Júlio Magalhães nasceu no Porto, a 7 de Fevereiro de 1963, foi para Angola com sete meses, tendo vivido um ano em Luanda e doze em Sá da Bandeira (Lubango). Em 1975 regressou a Portugal, mais precisamente, ao Porto. Aos dezasseis anos, iniciou a sua carreira de jornalista. Actualmente é director de informação da TVI.
Sobre a obra: este é o 2º de três romances já publicados. Júlio Magalhães destaca-se no universo do jornalismo português pela sua correcção, pelo seu profissionalismo. Os seus romances abordam temas incontornáveis do século XX, determinantes para a construção da nossa identidade, mas que são simultaneamente penosos e controversos. Frequentemente abordados pela rama, como incómodos, ou simplesmente silenciados como tabus. São feridas ainda mal cicatrizadas, de um povo ainda em convalescença social e cultural. Júlio Magalhães aborda-os com a correcção e frontalidade a que nos habituou como jornalista, mas também com a apurada sensibilidade de quem enfrenta os demónios do passado para que o futuro os não possa repetir. E este é um aspecto fundamental, porque os nossos jovens não têm a memória do sofrimento que a guerra colonial causou na grande maioria das famílias portuguesas, do desespero de ver partir um filho que não se sabe se voltará, ou como voltará, de ver chegar os filhos dos outros em caixões que não eram abertos, ou simplesmente nunca mais saber o que lhes aconteceu.

A escrita de Júlio Magalhães é formalmente muito correcta, depurada, despretensiosa, mas não ligeira. Um amor em tempos de guerra reflecte já, relativamente a Os retornados, uma evolução, um amadurecimento do romancista, que constrói um universo fictício que nos arrebata na evolução da intriga e que nos prende no fio da palavra. Um amor em tempos de guerra conta-nos a história de António, que nasceu marcado pelo nome. O mesmo que o de Salazar, o homem que se fez doutor em Coimbra, que era lá da terra, e que governava o país com pulso de ferro. Como tantos jovens da época calhou-lhe nas sortes ir para Angola, para defender a pátria, numa guerra distante que não era a sua.
Deixou para trás a sua terra, a mãe inconsolável e Amélia, a amiga de infância, a mulher a quem pedira em casamento, num banco de pedra, junto à igreja.
Quando António regressou de Angola, era um homem diferente. Marcado no corpo por anos de guerra e de cativeiro e no coração por um amor impossível que deixara em pleno mato angolano. Regressava para cumprir a promessa que fizera anos antes à sua noiva Amélia, que o julgara morto. Mas o tempo não tinha parado na sua ausência, por isso Amélia continuou a sua vida acreditando na morte do homem que amava. O resto é para descobrir no prazer da leitura. Apenas acrescento que o final da história é uma forma eficaz de luta contra o preconceito e por isso um valioso contributo para repensarmos o presente, se queremos construir um futuro mais justo.
                                                                                          Maria Isabel Prates

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e responda ao questionário que preparámos para testar a sua leitura. Obrigada. 

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