16/01/2013


À procura de ti
      Fiquei parada. Esperei que o vento levasse consigo todas as minhas preocupações. Mas de nada valeu.
Corri. Parei. Voltei a correr. Deixei-me percorrer pela mágoa que me devorava o corpo. Pela dúvida, a incerteza, o desconhecido. Até que o cansaço me deteve.
     Então, senti o meu corpo flutuar, a dor desvanecer-se e o pânico desolar-se da minha alma. O conceito de sofrimento converteu-se, pouco a pouco, em algo oculto e inexistente. A tristeza deu lugar a uma calmaria infinita, comparável ao rebentar das ondas do mar na praia. Senti-me mergulhar num terno abraço profundo, na magia de um coração puro, na veracidade de um sorriso completo e de palavras cristalinas.
     As preocupações acabaram. Senti-me leve, pela primeira vez. E aí, aí vi-os… Enxerguei os seus olhos: Verdes, duas lagoas fundas e intensas. Percorri-lhe o rosto, detive-me nos seus lábios e agarrei-lhe as mãos, com força e determinação. Apercebi-me do calor do seu corpo, do desejo que ele emanava e limitei-me a entregar-me por completo. As minhas maçãs do rosto amadureceram, fervendo e corando. Eu queria-o. Desejava-o. Amava-o totalmente! E sabia que ele assim mo retribuía. No dobro, possivelmente. Não podia negá-lo, não valia a pena lutar contra sentimento tão árduo e magnificente.
    Fui invadida pelo perfume doce de um botão de rosa vermelho, por uma lufada de ar fresco e um formigueiro quente e breve.
     O ar cheirava a rosmaninho, terra molhada e relva aprazível. Raios de sol ameno, oriundos das poucas entranhas daquele sítio com baixa luminosidade, batiam-me na face. “Sinais da primavera”- pensei.
Lentamente, reconquistando a consciência, acordei. Fraca e sem forças, contudo, serena. A dor já não me anestesiava as veias, as lágrimas já não eram gélidas, mas sim secas, impedindo o congelamento do sangue. O meu coração batia lenta, mas freneticamente.
     Nesse momento, olhei para o lado, na esperança de o encontrar. Esperança essa em vão, pois ele tinha realmente partido. Para sempre. E tudo não passara de um sonho tranquilo e irreal. Mas porquê? Qual a razão que me levara a abrir os olhos e procurá-lo no vazio do bosque imenso, cor de musgo e húmido, onde, outrora, caíra num sono intenso, só e abandonada? Porque procurara eu resposta a uma pergunta que não estava preparada para realizar?
     Entretanto, decorrendo com diferentes níveis de rapidez, o tempo passou e a sua ausência é já uma constante na minha vida. Oprimo lágrimas que tenho vontade de jorrar, gritando em silêncio para que todos possam ouvir a minha dor.
    Vivo na esperança ingénua de que um dia ele volte. Necessito desse ser humano, que, no fundo, é a minha essência, para poder ser completa, pois tudo o que aporta no meu cais está, de alguma maneira, relacionado com ele.
Maria Almeida


Professora Clara Esteves

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